quinta-feira, 15 de abril de 2010

Eu acho é pouco!

                                        

Bem, olha como são as coisas? estou escrevendo mais um causo, este um pouco monótono, confesso. Mas desta vez vou tentar traduzir toda minha inquietação intracutânea.

Mais uma vez, sentado em minha cadeira, ela range o tempo todo. Velha de guerra merece um descanso, o qual não o terá tão cedo. Hoje eu sou minha cadeira. Na verdade sou um pouco mais velho que ela, sou um produto de meados dos anos 80. Mas ela, como eu, está sempre aqui neste quarto sentindo as intempéries de um dia que passa.  Ela como eu, aguenta pesos advindos de cima: minha cabeça certamente pesa mais que o resto do meu corpo (será?). Corpo este, que já começa a ser modelado pela minha mórbida rotina de vida (ingeri, agora pouco, uma receita de bolinhos de chuva no sol). Vida esta, que já começa a pesar minha consciência. Consciência esta, que se encontra inconsciente. Inconsciente estou, tentando encontrar um propósito, uma motivação. Mas fiquem tranqüilos não penso em suicídio, mas acho que eu não faria tanta falta assim, pois nem dinheiro eu tenho para emprestar.

Feliz foi Mozart, pois descobri através do Wikipédia, que aos cinco anos ele começou a compor. Na adolescência seu talento era disputado pela corte. Hoje resolvi conhecê-lo, o medíocre do século XXI descobrindo um prodígio do sec. XVIII. 
Achei dá hora o som, não consegui parar de ouvir outra coisa o dia todo. Comecei então, a modelar no Rhinoceros como se eu fosse um Deus criador. Mas eis que chega a hora de alimentar Tulira, a minha . A fila rajada, sempre me lembra a hora do jantar, dela é claro. Levanto-me,  abandonando o mundo virtual 3D, meu grande amigo Mozart e minha cadeira quase gemea-siamesa de mim. E caminho em direção ao saco de ração.

Estava escuro, a luz da varanda havia queimado devido ao último temporal, mas não me importei. Como de rotina, o saco (de ração) estava no mesmo lugar. Eis agora o momento que fez deste dia, único. Fiz uma concha com as mãos, como sempre faço, e fui enchê-la. Quando de repente, uma pelúcia acariciou minha palma, gritei:
_ Puta que pariu! Que caraí é esse?!

Afastei-me uns 30 metros, um sentimento estranho tomou meu interior, misturava prazer por ter sentido a mais afável das texturas. E raiva, por esta pertencer a um rato, morto dentro do pacote de ração.

Pois é amigos, cada um vivendo sua ficção. De Mozart ao roedor macio, o que mais a vida me oferecerá?

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